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Motor do avião
A VIAGEM

Junto com minha saudosa Avô, Maria del Carmen Castro, meu Pai e eu, programamos a Viagem à Buenos Aires em 1996, e um amigo nosso que mora lá nos indicou o Hotel Salles, onde fizemos a reserva antecipada por 10 dias.


Compramos as passagens de avião, ida e volta, pela companhia aérea VASP aproveitando uma promoção que nos obrigava a ficar 10 dias. O retorno deveria ser 10 dias após a ida.


Prontos a embarcar na manhã do dia 28 de setembro de 1996 no Aeroporto do Galeão no Rio de janeiro, surgira um absurdo, inexplicável e improcedente impedimento na Polícia Federal para o Luis, meu Pai, sair do País. Isso atrasara nosso embarque, fazendo-nos perder o voo, sendo-nos informado que nossa bagagem tinha sido despachada no avião sem nós a bordo. 


Esse impedimento foi muito estranho e suspeito, pois meu Pai já tinha viajado 3 vezes antes sem problema algum, duas vezes em 1984 e uma em 1993, quando nós três juntos fomos à Buenos Aires para fazer um trâmite bancário da minha Avó (que era Argentina), quando trocou o Banco de la Nación Argentina pelo Banco do Brasil para receber sua aposentadoria e pensão aqui no Brasil.


Alegaram ter aparecido no sistema um mandado de prisão no nome dele, o que nos provocou sobressalto e nervosismo sem imaginar que motivo poderia ser. Nunca cometeu nenhum crime! Curiosamente não o prenderam, não informaram de que se tratava e o deixaram ir.  Entendemos que foi uma estratégia forçada para impedi-lo de sair do País e interromper nossa viagem. Dava para entender de onde poderia ter surgido a interferência... porque houve interferência, ficou evidente.

Bem... nisso a nossa bagagem saiu junto do avião.  Estava composta por quatro pinturas de autoria de Pedrini, embaladas em três pacotes e mais 4 bolsos de viagem com nossos pertences pessoais.


Entre as pinturas estava o “Retrato do Acadêmico Roberto Marinho”, “Brio”, “Apocalíptico” e “Jesus de Nazareth”.


Ficamos desesperados e muito preocupados que se perdesse, pois tratava-se de uma bagagem muito importante e valiosa!  A única opção plausível foi pegar outro voo mais tarde para recuperar a bagagem em Buenos Aires, e assim fizemos minha Avó e eu. Já meu Pai, impossibilitado de embarcar, decidiu voltar para casa e ficar no Rio de Janeiro. Estávamos muito tristes e aflitos com toda essa situação que nos atropelara e nos obrigou a separar-nos. 

 

Ainda no Galeão, dividimos o dinheiro total que havíamos reservado para a viagem, em torno de 1.500 dólares, para que ele pudesse chegar em Buenos Aires de outra forma, ainda que uns dias depois.
Foi um momento muito tenso para nós três, extremamente angustiante, pois uma viagem que era para ser perfeita, se transformou num desastre.

Meu Pai tentou levantar o bloqueio que aparecera na hora do embarque, indo naquele mesmo dia na Sede da Polícia Federal no Centro, mas de nada adiantou. Então o que ele fez? Iniciou uma Odisseia.


Solicitou junto à Vasp o estorno da passagem internacional (que levaria uns 15 dias) e comprou outra doméstica Rio-Iguaçu para o dia seguinte; lá atravessou a pé a Ponte da Amizade até a Cidade do Leste no Paraguay, onde embarcou num jatinho comercial no Aeroporto Guarany para Assunção, e aí embarcou num voo internacional para Buenos Aires pela Companhia Aérea Aerolíneas Argentinas que levava a Seleção Paraguaia de Futebol. Foi uma “aventura” desnecessária que acabou onerando nossos custos e comprometendo a disponibilidade financeira que tínhamos separado para fazer uma viagem tranquila e garantida. 


Já minha Avó e eu embarcamos num voo no final da tarde do dia 28 de Setembro de 1996, levando umas 3 horas aproximadamente de voo, até chegar em torno das 9 horas da noite no Aeroporto de Ezeiza.
Foi então que começou uma situação desgastante que durou umas 7 horas pelo menos.
Quando fomos pegar nossas bagagens levamos um susto, pois ela não aparecia. Tivemos que ficar esperando no aeroporto por horas enquanto vimos as pessoas indo embora e o aeroporto esvaziando e apagando as luzes.


Os funcionários da VASP tinham desaparecido.  Estávamos muito preocupadas e assustadas sem saber de fato o que estava acontecendo.


No saguão do Aeroporto se aproximou um rapaz oferecendo-nos transporte. Ele tinha uma Van daquelas de 10 lugares. Me entregou seu cartão (que guardo até hoje!) e disse que ia ficar nos esperando. Não quis prende-lo, pois não tinha a menor ideia do tempo que levaríamos para resolver a liberação de nossa bagagem. Mas ele insistiu que nos esperaria. Do lado de fora, ficou nos olhando e acompanhando o desenrolar da situação. Não nos perdeu de vista em momento nenhum. Achei curiosa a atitude dele. Quase desconfiei. Penso que colocaram ele lá para nos atender.


Aproximadamente duas horas depois vi passando dois funcionários da VASP e perguntei: cadê nossa bagagem?


Um deles veio até nós e disse que iria procurar saber. Pouco depois voltou dizendo que não a encontravam. 

Eu reclamei e disse que não podia ter sumido. Então pedi para ele procurar e achar nossa bagagem.


Como nossos pertences tinham ido num voo mais cedo, talvez estivesse guardada em algum local específico reservado para as bagagens dos passageiros de voos internacionais, mas não era motivo para disserem que tinha sumido.  Inclusive porque eu tinha as etiquetas que nos entregaram de manhã quando a gente despachou no balcão de embarque os volumes da nossa bagagem, ainda no Rio de Janeiro.  Aí ele ficou preocupado porque eu estava com os comprovantes em mão. Uma bagagem com tantos volumes não some do nada, principalmente contendo Obras de Arte.


Ficamos esperando e esperando por mais algumas horas até que o funcionário da VASP aparece com as quatro bolsas de viagem que tínhamos levado com nossos pertences pessoais.  Foi quando eu perguntei à ele onde estavam as pinturas.  Respondeu que não sabia, não tinha achado.  Novamente insistir e exigi que encontrasse as pinturas.


A espera continuou por mais algumas horas.  Até que finalmente veio falar conosco o chefe da Alfândega do Aeroporto, quem trouxe apenas dois pacotes com pinturas contendo três pinturas.  Cuidadosamente rasguei um canto do papel do embrulho para verificar se eram as pinturas que tínhamos levado.   Conferido.  Ainda faltava uma, a mais importante: o “Retrato do Acadêmico Roberto Marinho”.  Esse fato chamou muito a minha atenção. Logo essa pintura tinha que estar sumida?  Por que não veio junto das outras?  Foi suspeito... e muito! 


A percepção de que esse Retrato foi o motivador de toda a situação estava mais do que óbvia. Principalmente depois do que aconteceu no Rio na hora do embarque...


Bem... continuando com os fatos...


Eu já estava impaciente, irritada, preocupada e tensa. Ante a minha insistência, mais do que óbvia e amparada no direito de Posse de nossos bens particulares, o chefe da Alfândega não teve outra opção a não ser trazer a pintura, o Retrato. Detalhe:  quando trouxe as pinturas, vieram da sala dele que ficava à direita de quem olhava o Aeroporto de costas para a saída na rua. As bolsas foram trazidas antes do lado esquerdo. Ou seja, nossa bagagem estava em locais diferentes, o que não correspondia e nos deu mais motivos para afirmar que tudo aconteceu devido a interferências externas. Não foi por acaso todo esse transtorno. 


Logo que reconheci e confirmei que eram as 4 pinturas que faziam parte de nossa bagagem, ainda havia outro obstáculo a superar. O Chefe da Alfândega nos levou na sala dele, a mim e à minha Avô (coitada, estava cansada, e não era para menos. Uma Sra. de 84 anos!)  Não queria nos liberar. Eu tive que provar que as pinturas eram de fato do meu Pai, já que ele não estava junto. Minhas simples confirmações e grau de parentesco provado nos documentos de identidade lhe foram insuficientes. Foi quando lembrei que tinha levado um book profissional com referências do nosso trabalho, publicações jornalísticas e fotos do apartamento onde morávamos, na Av. Atlântica de frente para a Praia de Copacabana, com essas pinturas expostas. Ele chegou a ser irônico comigo dizendo: “la nena vive en una favela”. E um detalhe muito importante: estava o tempo todo falando no telefone com alguém. O que eu dizia, ele transmitia, e parecia receber instruções do que fazer com a gente. Dessa vez, apesar de convencido, ainda relutava a nos deixar ir embora com a nossa bagagem. Eu não sabia mais o que fazer ou dizer. Nunca antes me vira numa situação sequer parecida. Foi tenso. 


Foi quando pensei em agrada-lo com uma das três caixas de café brasileiro importação que tínhamos comprado no Galeão para presentear Amigos e Familiares. Acreditam que se atreveu a me acusar de estar subornando-o? E disse isso para quem estava ao telefone com ele: “la nena ahora me quiere comprar” afirmou aos risos... e eu rebati, claro. Disse que não foi minha intenção de jeito nenhum. Só pensei que gostaria de experimentar um café genuíno da minha terra natal. Era para presentear mesmo! Que diferença fazia a quem? Como era de se esperar, ele aceitou, e como se não bastasse, pediu as três caixas! Eu relutei a entrega-las, mas ele forçou a barra. E nós queríamos sair logo de lá. Já eram umas 3 e meia da madrugada. Convencido de que não existia mais nenhum argumento para nos segurar, já murmurando ao telefone, terminou a ligação e permitiu que fossemos embora.

 

Finalmente! 

Tentei saber com quem falava, mas não consegui de jeito nenhum... ele tomou cuidados para não deixar transparecer a menor pista de quem se tratava. Mas pelo visto era alguém importante e influente com interesse nas pinturas, justamente o que não queria liberar. A final de contas, a quem o Chefe da Alfandega de um Aeroporto Internacional estaria atendendo? 


Tive muita coragem de enfrentar essa situação sozinha, não foi fácil para mim, e como se não bastasse, com uma idosa junto que exigiu de mim cuidados para que não passasse mal. Ela também era guerreira e estava no seu País natal. Segurou a barra firme. Se comportou bem. Não me deu trabalho. 


Já liberados, chamei o rapaz do transporte que ficara nos esperando até aquela hora. Nos ajudou a carregar nossa bagagem para a Van e partimos para o Hotel Salles quase às 4 da manhã do dia 29 de Setembro. Tive medo, não havia ninguém nas ruas de madrugada. Mas por sorte saiu tudo bem. Agradeci à ele por ter ficado. Não havia mais ninguém com transporte no Aeroporto.

Já no Hotel, fizemos o check in e paguei a primeira diária que era de 100 pesos. Guardo o recibo até hoje! Avisei que Papai chegaria uns dias depois, pois a reserva era para 3 pessoas.


Subimos para a suíte e finalmente conseguimos relaxar e dormir. Estávamos exaustas!


Meu Pai estava à caminho... 


Chegou 3 dias depois... dia 1º de Setembro. Ficamos aliviadas de vê-lo bem...são e salvo!


No dia 02/09/1996 de manhã levamos o Retrato na Empresa Consultatio Asset Management para que o Dono, Eduardo Costantini, pudesse aprecia-la,  como combinado desde o Rio de Janeiro. Fomos recebidos pelo secretário dele na recepção do prédio, quem subiu e levou a Pintura ao Gabinete do Eduardo, surpreendendo-nos por não nos receber pessoalmente, o que quase provocou nossa resistência. Mas como tínhamos combinado, confiamos e aceitamos que subisse com a Pintura. Após uma espera considerável, o secretario saiu do elevador, sem o Retrato do Dr. Roberto. Perguntamos onde estava a Pintura. Na maior desfaçatez, primeiro tentou negar que tivéssemos entregado a Pintura, o que retrucamos com convicção, obviamente. Inclusive porque tinham recepcionistas como testemunhas. Ainda assim, apesar de nossa insistência e indignação, recusou-se veementemente a devolve-la, e sob nossa ameaça em chamar a Polícia, obrigando-nos a levantar o tom de voz na recepção, tornou a subir, e a contra gosto, nos restituiu o Retrato.  


Sinceramente ficamos irritados e estarrecidos frente ao que nos pareceu uma tentativa de roubo descarado. Mais uma na verdade! Só que essa foi muito ostensiva e direta. O Costantini imaginou que conseguiria nos roubar diante de câmeras e testemunhas? Pensou que iriamos embora sem mais nem menos? A pergunta é: porque teve essa atitude?  O que o levou a agir assim? A oferta tinha sido para que adquirisse o Retrato com a condição de presentear ao Dr. Roberto. Entendemos que foi uma medida desesperada e furtiva para tentar reter a Pintura, bem provavelmente por indicação e à mando de alguém. Não há outra explicação plausível que justifique esse comportamento.

 

Voltamos ao Hotel e telefonicamente fizemos contato com uma Galeria de Arte no Bairro de La Recoleta, a uns passos do luxuoso Alvear Palace Hotel, e combinamos de levar fotos de algumas Pinturas. Fomos nesse mesmo dia de tarde, e se interessaram muito em conhecer nosso trabalho ao vivo, ficando de voltar no dia seguinte com os originais que certamente seriam adquiridos.


Essa mesma noite às 7:46 PM do dia 2 de Setembro, desde o Hotel Salles, meu Pai decidiu enviar um Fax ao João Roberto Marinho avisando-lhe que nossa intenção de vender o Retrato de seu Pai para o Colecionador Costantini não tinha dado certo, dando-lhe a oportunidade de negociar a Pintura diretamente conosco para presentear seu Pai, antes que a oferecêssemos à outras Galerias de Arte, no caso de que manifestasse seu desinteresse. 


Eu tive um pressentimento ruim e pedi ao meu Pai que não enviasse esse fax, pois ele saberia onde estávamos. Mas ele insistiu... não pude evitar.


Na manhã do dia seguinte veio o resultado. Bem cedo, enquanto ainda estávamos dormindo, intempestivamente o Sr. Julio Cesar Galetti da Gerência do Hotel nos telefona no quarto exigindo o pagamento imediato das diárias pendentes, pois só havíamos pagado uma diária, apesar de que ofereci o pagamento diariamente e o Hotel não aceitou, acordando conosco que acertáramos tudo ao final dos 10 dias de reserva. 


O dinheiro que tínhamos disponível naquele momento, ali conosco, não alcançava para cobrir o total, mas era possível acertar uma boa parte e depois completaríamos o restante. O Sr. Galetti não aceitou, fez questão que pagássemos o total naquela hora. Do contrário deveríamos retirar-nos da suíte imediatamente e deixar nossos pertences até saldar a dívida. Foi bem radical na exigência, contrariando a disposição anterior quanto a que o pagamento seria feito no final da reserva quando deixássemos o Hotel. 


Estávamos no meio do período... ainda faltavam 5 dias para completar a reserva. Tínhamos dinheiro a receber lá mesmo em Buenos Aires. Não haveria qualquer problema em pagarmos a estadia completa. 
Ato seguido, insistiram veementemente que deveríamos deixar o Hotel, fazendo questão de reter toda nossa bagagem, incluindo as 4 Obras de Arte, mas sem deixar constância por escrito, negando-se a repassar-nos comprovantes. 


Porque não foi surpresa para nós? 


Obviamente discordamos. Meu Pai e eu descemos à recepção, enquanto minha Avô ficou no quarto, e tentamos entrar num acordo razoável. Não adiantou, estavam irredutíveis!


Procuramos então a Polícia, que nos orientou a contatar o Colégio de Escrivães para que registrassem a situação.

Desta forma, telefonamos e enviaram a Escrivã Mónica Iglesias para lavrar uma Ata Cartorial, quem começou às 14:50 hrs o relato das circunstâncias, deixando constância da situação e do inventário dos nossos pertences que ficariam retidos no Hotel. Foi um serviço particular pelo que pagamos 200 pesos. 


Curiosamente, quando a Sra. Mónica chegou no Hotel, alegaram-lhe que nós quisemos sair sem pagar, tentando justificar seu ato arbitrário e injustificado que faltara com a verdade. Foi uma mentira deslavada, pois estávamos dormindo quando nos acordaram com a exigência. Quiseram impedi-la de subir à nossa suíte para inventariar nossos pertences, mas não puderam evitar frente à nossa insistência. Tivemos que impor nosso direito. Queríamos que ela testemunhasse que não tentamos retirar-nos e muito menos sem pagar, como nos acusaram. Nossas coisas estavam espalhadas na suíte e não arrumadas para sairmos com tudo. 


Ainda na Suíte descreveu cada uma das Pinturas da seguinte forma:

 

“... “Brio” cujas medidas são 50 x 65 cm (1988) avaliado segundo o Sr. Pedrini em 10 milhões de dólares; “Apocalíptico” (1989) 80 x 40 cm cuja avaliação segundo o Sr. Pedrini é de 7 milhões de dólares; “Jesus de Nazaret” 78 x 58 cm (1980) avaliado em 1 milhão de dólares; “Retrato do Acadêmico Roberto Marinho”  de 72 x 49 cm e avaliado segundo o Sr. Pedrini em 100 Milhões de dólares (1993/1996). Estes dois últimos tem sido publicados em vários Jornais da República Federativa do Brasil... embrulhados em papel madeira e plástico”


Antes dela finalizar, o Sr. Galetti foi na suíte e exigiu que continuasse o inventário na recepção desde que nossos pertences ficariam guardados no depósito do Hotel, obrigando-nos a descer, e assim tivemos que proceder, já tendo arrumado tudo. 


No térreo se fez presente o Gerente Nicolás Pujatti, e na sua frente, a Escrivã continua o inventário, complementando às 4 Pinturas:


“... 1 bolso preto, 1 bolso azul, 1 mochila preta e amarela, 1 bolso celeste e 1 bolso cinza...”


Nos entregaram 7 cartões identificatórios de cada volume com o Nº da suíte 408 e guardaram tudo num compartimento fechado que se encontrava detrás da Concergeria ou Recepção.


Encerrou às 16:25 hrs, dando fé de tudo o relatado, negando-se a faze-lo o Gerente Sr. Pujatti, a quem entregamos a chave da Suíte. 


Nos deixaram com a roupa do corpo, em pleno inverno, com muito frio e sem comer nada naquele dia, pois nem o café da manhã tínhamos tomado, e com uma Sra, Idosa que desmaiara no hall do Hotel frente a tamanha agressão. Nem um copo de água lhe ofereceram! Total falta de consideração ou respeito! 


Saímos e telefonamos para um velho amigo que tinha um Hotel Familiar no Centro, onde concluímos nossa estadia, paga com nosso dinheiro, até poder voltar ao Rio de Janeiro pela Vasp, de acordo à promoção que nos obrigara a voltar depois de 10 dias.


Ficamos com nossos planos interrompidos, sem as Pinturas e sem nossos pertences para poder dar continuidade ao que motivara a viagem. Usurparam nosso direito e liberdade de decisão. Nos atropelaram. Estávamos assustados e revoltados ao mesmo tempo, ultra alertas!
 

Nos impediram de ir no Museu da Casa Rosada onde tínhamos agendado com a Diretora e a outras Galerias de Arte com as que marcamos.


Então fomos na casa do meu Tio Avô ver se podia nos ajudar. Ele era Policial Federal aposentado. Estava meio adoentado e triste com a viuvez, e com dificuldades financeiras que o impediram. Mas nos deixou telefonar para o João Roberto Marinho aqui no Brasil, e sua Secretaria disse que era para procurarmos a Embaixada Brasileira em Bs. As. onde poderiam nos ajudar. Desconfiamos e ficamos com medo, o que era bem natural depois de tudo o que nos aconteceu. E a essa altura consideramos o João Roberto responsável pelo que aconteceu no Hotel logo após ter-lhe enviado o fax. Foi incapaz de nos retornar diretamente com seriedade e decência; preferiu agir pelas costas usando de sua influência e poder econômico para usurpar à força o que nos pertencia. É obvia sua interferência! Afinal, ele, o Filho predileto do Dr. Roberto, tinha que acertar enquanto outros tinham falhado. E finalmente conseguiu! 


Decidimos não ir na Embaixada. Poderiam nos sequestrar! Esperávamos o pior! Ficamos traumatizados e apavorados! 


Minha Avô conseguiu receber sua aposentadoria e pensão lá em Buenos Aires, o que ajudou a compensar o orçamento. Contávamos com esse complemento para cobrir os custos da viagem. Estávamos bem folgados.

Chegou o dia do retorno ao Brasil, 8 de Setembro de 1996. Minha Avô e eu já tínhamos as passagens de avião, e meu Pai teve que comprar a passagem de ônibus para voltar ao Brasil. Nos despedimos na Rodoviária em Retiro, com muita dor no coração, pois Papai teria uma longa jornada que levaria 3 dias. De lá fomos para o Aeroporto de Ezeiza, onde nós duas embarcamos no avião. Estávamos desoladas, tristes, aflitas e apreensivas. 


Um Pôr-do-Sol estonteante que iluminou o interior do avião acalmou um pouco nossos corações... e ao anoitecer, as estrelas nos acompanharam... voávamos do lado delas... foi mágico! Interpretamos como uma compensação natural do Universo por todo o sofrimento que havíamos passado. 


Desembarcando no Galeão, já no Rio de Janeiro, fomos interceptadas por dois Comissários de Bordo que me pediram para comprar algumas garrafas de whisky no Duty Free. Fiquei meio desconfiada na hora, mas aceitei. Me deu dólares para pagar, orientando-me a ficar com o troco pelo favor que lhe fiz. Foi uma tremenda sorte, porque não tínhamos dinheiro suficiente para voltar para casa. Morávamos em Copacabana. Assim, na saída do Aeroporto, entreguei a compra e pegamos um taxi. Finalmente chegamos em casa!


Nos dias seguintes, recebíamos ligações a cobrar do meu Pai, quem ia nos mantendo a par de sua viagem. 
Chegou 3 dias depois, são e salvo! 


Respiramos aliviados! 


Viagem finalizada! 


Agora se iniciava uma nova fase: O RESGATE de nossa bagagem retida no Hotel Salles!

 

...
 

Por: Rosângela Jassé Silva Pedrini


 


 

Os documentos da galeria abaixo podem ser visualizados em detalhe nestes arquivos em PDF

PINTURA JESUS-1.jpg

“Jesus de Nazaret”

PINTURA APOCALIPTICO.jpg

“Apocalíptico”

PINTURA BRìO.jpg

“Brío”

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